Pindamonhangaba - SP: A cidade onde eu nasci, “de fato”. Foi assim: Meus pais moravam próximos a meus avós, na Vila Guilherme, São Paulo, e a maternidade mais próxima ficava no vizinho bairro do Pari (Pari, Canindé e Brás, a maioria das pessoas, eu inclusive, não sabe ao certo onde começa um e termina o outro) e meus dois irmãos mais velhos, atendidos nesta maternidade, haviam falecido; minha tia Carmen, irmã de meu pai, trabalhava (e trabalha ainda) na Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba, e sugeriu que minha mãe realizasse o parto ali, já que o obstetra era amigo da família e bom pra caramba. Durante muito tempo, quando me perguntavam onde eu tinha nascido eu falava que era em Pinda, sem pestanejar; mas aí o pessoal olhava no RG e contestava... Como a maior parte de minha vida eu passei na Vila Guilherme e, inclusive fui registrado no cartório da Vila Maria, hoje eu falo que sou da VG e pronto. Só para constar, minha tia Yolanda também veio a trabalhar neste hospital e como minha avó, viúva, morava com estas minhas duas tias, acabaram vindo a morar nesta cidade. Dá pra dizer que é uma cidade legal, bonita e bem cuidada... pelo menos eu acho. Durante muito tempo as viagens mais longas e regulares de minha vida eram com destino à Pinda e Guaratinguetá, para visitar minha avó, minhas tias, meu tio João e meus primos, já que houve um tempo, nos anos 80, que meu pai ( e todos nós) íamos até lá pelo menos uma vez por mês. Eu gostava muito, principalmente de ir na praça central, que tem uma espécie de gruta e é cercada por canais, com peixe (carpas) e tudo. Pô, nos anos 80, enquanto a maioria dos espaços públicos da capital estava quase sempre degradado, eu achava do outro mundo uma praça tão diferente e bem cuidada! Em Pinda tem também um mercado central, ao redor do qual, aos domingos, há (ou havia, não sei mais) uma feira com quinquilharias de todo o tipo, coisas que as pessoas geralmente jogariam fora, mas que lá o pessoal dava um jeito de comercializar, além de outras coisas que normalmente a gente encontraria em qualquer feira, coisas como legumes, verduras, frutas etc. Uma coisa que recordo lá de minhas idas, foi de uma vez que minha mãe levou eu e minha irmã, de trem, para conhecermos Campos do Jordão, que é um município vizinho. Bem, todos sabem como são bem cuidadas as instalações ferroviárias de nosso país... Chegamos a conhecer Campos do Jordão, mas não sem antes amargar umas quatro horas num lugar chamado Piracuama, já que a merda do trem teve um curto-circuito subindo as “montanhas” e tivemos de voltar e esperar numa estação perdida no meio do mato, onde não tinha nada pra comer, só água de torneira. Valeu a pena pela aventura e pela paisagem, já que eu não gostei muito do estilo de Campos do Jordão; sei lá, achei meio forçado uma cidade tão “alpina” ali no interior de São Paulo. A maioria das pessoas que conheço acha superchique ir lá passar frio, comer foundue, tomar vinho, etc, mas eu não curti muito não. Mas voltando a Pinda, eu passei vários carnavais ali, indo nos salões e o caramba. Vá lá, não era a maior zoeira do mundo, mas dava pra se divertir, ver o movimento pelo menos... e sem o risco de voltar morto pra casa, porque ali era certeza que não ia rolar encrenca nestas puladas carnavalescas, por motivos que não vêm ao caso falar agora.
Aparecida - SP: Entre Pinda e Guaratinguetá fica cidade santuário de Aparecida. Uns dizem Aparecida do Norte, mas esse nome não tem nada a ver. Aliás, tem um pouco, porque o “do Norte” pegou porque a galera ia até uma estação de trem na Capital, acho que era a estação de onde saíam os trens rumo ao norte do país, e ali pegavam o danado até Aparecida, Sei lá como, associaram o nome da cidade com o nome da estação... é um história mais ou menos assim. O fato é que era sagrado: dada a freqüência com que íamos ali pro Vale do Paraíba, era meu pai trocar de carro e dava uma parada na Aparecida pra abençoar o auto. É uma cidade que vive em função da fé, ou como gostam de dizer agora, do turismo religioso. Andei bastante por lá quando criança, mas, incrivelmente, nunca me interessei por nada do que havia na miríade de quinquilharias que se vendia naquelas lojinhas espalhadas ao redor da basílica. Não que eu tivesse alguma coisas contra, simplesmente não achava graça; hoje eu acho meio forçado esse comércio em torno da fé ao mesmo tempo em que acho complicado tecer algum julgamento. Primeiro porque não vivemos num mundo ideal, vivemos num mundo desgraçado onde tudo é movido a dinheiro. E para que se tenha uma estrutura capaz de dar um mínimo de conforto aos romeiros é preciso que ele saia de algum lugar (eu sei os apuros que passei andando por ali sem ter onde beber água, banheiro decente, lugar legal pra comer...). Depois, onde não há comércio nesse mundo? Que rola exploração ali, isso rola, mas não sei das coisas com a profundidade necessária pra dar uma opinião “embasada”, sei que o pessoal fala pra caramba sobre isso, mas nesse mundo quem tem boca fala o que quer, não é mesmo. Só sei que uma vez, acho que a única vez que me meti em romaria, foi a maior “roubada”. Minha avó chegou e disse: — Claudio, vai ter uma excursão do pessoal ali da Cristo Operário (rua da Vila Guilherme) lá pra Aparecida. Você vai comigo? Eu não queria ir sozinha... — Ah, vó... tô fora. Tenho de estudar (o velho golpe do aluno aplicado...) — Não, Claudio, vai ser bem legal... Olha, vai até umas “mocinhas”... Acabei indo. E até que, por acompanhar o ritmo da minha avó, acabei prestando mais atenção a certos aspectos da cidade, os quais eu nunca tinha dado muita atenção antes, principalmente com relação à igreja velha, que é muito interessante. Quanto a ”roubada” , isto ficou por conta das tais mocinhas, que deviam ser beldades mesmo... nos anos 40!
Lorena-SP: Minha irmã Ana Lúcia, filha do meu pai, mora nesta cidade, que deve ter mais bicicleta do que gente. Lembro de terem me contado que Lorena é uma das cidades mais violentas do Vale do Paraíba, numa triste constatação de como as coisas mudaram no interior paulista nos últimos anos. Meu único interesse nessa cidade é minha irmã e sua família, gente muito boa e que mantém ainda alguns velhos costumes do interior, coisa cada vez mais rara hoje em dia. Teve uma vez em que eu os estava visitando e a molecada começou pegar içá para comer — pra quem não sabe, içá é a fêmea da saúva, a rainha que sai do ninho pra formar uma nova colônia e tem o abdômen cheio de ovos . Putz, eu não consigo comer içá, e tem gente que paga uma grana no litrão cheio desses bichos... (c’est la vie, cada um no seu quadrado!).
Volta Redonda - RJ: O irmão mais velho do meu pai mora nessa cidade e é o pai do meu primo Diogo. A grande impressão que guardo dessa cidade diz respeito ao gigantismo das instalações da CSN. Caramba, você andava pra burro numa avenida que margeia a empresa e não chegava ao final dela! É a maior instalação industrial que eu já vi. Não sei ao certo, mas acredito que a economia dessa cidade ainda deva girar em torno da siderúrgica, embora da última vez em que estive lá (2004) deu pra ver que o comércio é pujante e bem diversificado. Penso que é um lugar legal, embora já deva enfrentar os problemas inerentes aos grandes centros brasileiros; se um dia conseguir combinar com meu primo, gostaria de visitar esse lugar novamente. Embora também fique no Vale do Paraíba, assim com Pinda, Guará e Aparecida,só que do lado fluminense, o sotaque muda pra caramba, sendo bem característico e, claro, bem fluminense. Foi o primeiro lugar que visitei onde esta particularidade me chamou a atenção e onde, também pela primeira vez, as pessoas estranharam o meu sotaque. Parece bobagem, mas tem gente que fica velha e não percebe essas coisas da vida, achando que o seu lugar, a sua terra natal é o que há de melhor e mais exclusivo na face da Terra. De certa forma, ali me liguei que a cidade de São Paulo, embora imensa, não era o único lugar do mundo onde havia coisas legais e diferentes
Araçariguama - SP: Esta cidade fica no Km 50 da Castelo Branco, sentido capital-interior e quando morei lá, nos anos 80, era distrito de São Roque, junto com Cangüera e São João Novo. Foi assim: Meu pai, depois que saiu de Guaratinguetá por causa de alguns reveses, foi trabalhar numa metalúrgica no bairro do Pari, na capital. Veio um decreto municipal e proibiu empresas daquele tipo no perímetro urbano. Por essa época a prefeitura de São Roque criou um distrito industrial em Araçariguama e atraía indústrias pra lá com incentivo fiscal. A empresa onde meu pai trabalhava se mudou para lá e ele teve de ir junto, claro, querendo levar a família; entretanto, minha irmã Carla era bebê à época e meus avós acharam que não seria uma boa idéia mudar pra um lugar carente de recursos com um bebê e um pançudo (à época Araçá ainda era meio atrasadinha). Assim, fiquei morando com meus avós na Vila Guilherme, até os 7 anos; todo final de semana, religiosamente, minha mãe vinha de Araçá e só voltava na segunda de manhã ou no domingo à noite, quando meu pai vinha junto. Quando meu avô Zelão morreu, eu e minha avó fomos morar com meus pais; no começo eu gostava, principalmente por conta da liberdade. Imagina, vivia quase trancado em São Paulo e, de repente, ter a liberdade de correr solto nas ruas, a pé ou de bicicleta, quase sem limite de horário... Além do mais eu consegui fazer amizade fácil com a molecadinha da região, e muitos ficaram amigos pro resto da vida, embora há muito não os veja. Bem, até que eu era criança eu gostava de morar ali, mas quando me tornei adolescente, gostava ainda, mas não tanto quanto antes. Aliás, não gostei muito da minha adolescência, acho que foi muito sem graça, principalmente ali nos seus anos iniciais (lá pro final, quando consegui comprar um carrinho e quando já trabalhava, aí melhorou um bocado...). Morei ali até os 15 anos, pois já que meu pai estava aposentado, meus pais resolveram voltar a morar na Vila Guilherme. Sem dúvida, a coisa mais legal e marcante que me aconteceu lá foi ter sido alfabetizado. Nunca me esqueço do dia em que me liguei do esquema de juntar as letras pra formar as palavras. Aparentemente é uma bobeira né, mas imagina a vida sem saber ler... É só imaginar e a gente dá o devido valor. Passei muitos perrengues existenciais ali também, e pudera, adolescência não é fácil... Uma coisa que, de forma recorrente, tem vindo à minha mente é o pensamento de que eu deveria ter procurado manter mais contato com os antigos amigos que tinha por lá. De fato, seria muito legal se eu tivesse contato com o pessoal, mas a vida não é algo redondinho onde sempre acontece o que seria o mais certo ou mais legal, acontecesse o que tem de acontecer, o que a gente “planta” e acabou; além disso, quando voltei a morar na Capital, também comecei a trabalhar numa grande vidraria perto de casa, tive uns problemas na nova escola (que era um porcaria...) enfim, comecei a ter novos problemas e fui me distanciando emocionalmente de Araçá. Aqui do Sul, quando se vai com o ônibus Princesa dos Campos, saindo de São Miguel do Oeste, passa-se por Araçariguama antes de se chegar a São Paulo. Dá pra ver que cresceu bastante e se desenvolveu também, não é mais aquela vilinha do começo dos anos 80 onde todo mundo se conhecia e coisa e tal. Acredito que o pessoal já enfrente alguns problemas característicos dos centos urbanos brasileiros, principalmente pela proximidade com cidades maiores como a Capital, Soracaba, Itu, etc. Enfim, eu gostei de morar lá, mas acho que foi bom ter voltado para São Paulo. Talvez quando conseguir comprar um carro novamente, dê uma passada por lá, só para conferir.
Rio de Janeiro – RJ: Estive nessa cidade em duas ocasiões, em 1988 e em 1998. No geral, achei o povo mais simpático e amigável que o povo de São Paulo. Dificilmente voltarei a visitá-la, mas gostaria. Não sei no que se baseiam pra dizer que o povo lá é menos trabalhador do que o povo de São Paulo ou de qualquer outro lugar. Deve ser despeito já que, mesmo com todos os problemas, a cidade tem pontos turísticos realmente maravilhosos.
Pouso Alto – MG: O município onde nasceram minha avó Rosa, meu pai e seus irmãos e provavelmente o meu avô Sebastião. Não sei muita coisa sobre esse lugar, acho que nem meu pai se lembra muito daí, porque a vida dele começou a ficar legal mesmo em Guaratinguetá. Uma vez passando por Pouso Alto, rumo a Virgínia, onde moram alguns parentes, vi a casa onde meu pai nasceu — na época de seu nascimento ali era a Fazenda Lagoinha. A casa era grande, estilo sede de fazenda mesmo, só que a vi de longe e não deu pra ver a quantas anda o seu estado geral. A sede do município é bem pequena, lembro que tinha um boteco que também servia de rodoviária e loja de lembrancinhas; claro que hoje, por morar em uma pequena cidade também, de repente visse o lugar sob outro prisma já que quando estive lá da última vez ainda morava em SP Capital. Quando tentei tirar a cidadania italiana e tive de pesquisar os documentos de alguns bisavós, a maioria deles saiu do cartório desta cidade; perguntando pros parentes daqui e dali, chegamos a conclusão que muitas pessoas nessa região, mesmo sem saber, são parentes nossas parentes distantes. Por causa disso, acho que é um lugar que vale a pena conhecer melhor algum dia, até porque fica perto de São Lourenço, famosa pelas águas e pela dor de barriga em quem não se cuida e quer beber todos os tipos lá existentes.