sábado, 20 de dezembro de 2008

VIAJANDO

De uns dias pra cá comecei a pensar sobre os vários lugares por onde passei e sobre os lugares onde vivi por muito ou por algum tempo; e também sobre os lugares que, de alguma forma, acabaram exercendo alguma influência sobre a minha vida. Com certeza, eu pouco ou nada influenciei na dinâmica de muitos desses lugares, destas cidades. Por isso, ou antes por acreditar nisso, só posso escrever sobre as impressões que ficaram em meu pensamento e que têm a grande probabilidade de não condizer com o “espírito local” ou com a imagem que geralmente o pessoal divulga mundo afora. Ao escrever também acabei dando uma “viajada”, lembrando de coisas que, aparentemente, não têm nada a ver com o lugar, mas sem problema, pois não pretendo, nessa postagem, ser muito certinho mesmo. O importante é falar sobre coisas que vi e as impressões que elas me causaram, ligadas ou não aos locais onde aconteceram.


Guaratinguetá - SP: Oficialmente o lugar onde nasci, o lugar que consta no meu R.G. como sendo minha cidade natal. Quando fui registrar minha filha, perguntei ao cara do cartório como foi possível o meu pai me registrar como nascido em um lugar onde, de fato, não nasci (pra registrar a Isabel tivemos de levar uma declaração do hospital e assim é hoje em dia com a maioria dos recém nascidos). Ele me disse que antes era possível registrar o filho como nascido na cidade de origem dos pais, independentemente do local onde a criança havia nascido (neste caso, então, minha origem tinha de ser São Paulo-SP ou Pouso Alto-MG...). Enfim, o fato é que Guaratinguetá foi a primeira cidade do Estado de São Paulo onde a família de meu pai se instalou depois de meu avô vender suas terras em Minas. Aí em “Guará” meu avô montou um comércio “forte” que foi tocado pelo meu pai depois que ele saiu do exército. Quando nasci, a mãe de meu pai ainda morava nesta cidade e acho que meu pai, pensando que ela moraria ali para sempre, deu um jeito de colocar aí como minha cidade natal. Minhas tias e meu tio João também moravam por ali. Esse meu tio João, que para minha imaginação infantil e urbana era um grande fazendeiro, morava num sítio (fazenda...) que ficava na estrada que liga Guaratinguetá à Parati, na comunidade (bairro) de Rocinha, bem na serra antes de se chegar à cidade de Cunha. Eu gostava muito de ir nesta “fazenda” porque, na maioria das vezes, era diversão e zoeira garantida, mesmo que nenhum de meus primos estivessem por lá. Por muito tempo aquilo foi meu paradigma de vida rural, embora não tivesse como ter uma noção correta desse estilo de vida pelo que vivenciava ali, hoje eu sei. Mas era legal, principalmente andar de mula e se sentir um grande cavaleiro, além de ter um contato mais de perto com a natureza e coisas do tipo “leitinho tirado na hora, leitãozinho à pururuca, virado à paulista, vagalumes “alumiando” o céu noturno etc. Curiosamente, meus pais se conheceram nesse sítio, de uma forma tão inusitada quanto surreal (meu avô Zelão, minha mãe e uma amiga dela, que formavam um trio sertanejo, foram se apresentar num circo que, justamente, estava armado nesta propriedade do meu tio... ). Bem, hoje Guaratinguetá, acredito que seja muito conhecida por conta de ser a cidade natal do Frei Galvão. Eu acho engraçado que das várias vezes que estive por lá, na infância e na adolescência, eu não lembro de ter ouvido falar dele, embora saiba que sua fama vem de longe, não é coisa de agora. Provavelmente eu ficava tão feliz e interessado na bagunça e diversão que acabei nunca dando atenção quando falavam desse santo. Guaratinguetá é um lugar que tenho de visitar e conhecer melhor agora como adulto. Estive lá no começo de 2008 visitando o lugar onde meus avós e meu tio João estão sepultados, quando vínhamos de Lorena. Talvez um bom pretexto fosse o de visitar alguns primos que ainda moram ali e que, imagino, ainda se lembram de mim. Quanto tiver melhor de grana, de repente eu os visite nestas minhas idas à São Paulo.




Pindamonhangaba - SP: A cidade onde eu nasci, “de fato”. Foi assim: Meus pais moravam próximos a meus avós, na Vila Guilherme, São Paulo, e a maternidade mais próxima ficava no vizinho bairro do Pari (Pari, Canindé e Brás, a maioria das pessoas, eu inclusive, não sabe ao certo onde começa um e termina o outro) e meus dois irmãos mais velhos, atendidos nesta maternidade, haviam falecido; minha tia Carmen, irmã de meu pai, trabalhava (e trabalha ainda) na Santa Casa de Misericórdia de Pindamonhangaba, e sugeriu que minha mãe realizasse o parto ali, já que o obstetra era amigo da família e bom pra caramba. Durante muito tempo, quando me perguntavam onde eu tinha nascido eu falava que era em Pinda, sem pestanejar; mas aí o pessoal olhava no RG e contestava... Como a maior parte de minha vida eu passei na Vila Guilherme e, inclusive fui registrado no cartório da Vila Maria, hoje eu falo que sou da VG e pronto. Só para constar, minha tia Yolanda também veio a trabalhar neste hospital e como minha avó, viúva, morava com estas minhas duas tias, acabaram vindo a morar nesta cidade. Dá pra dizer que é uma cidade legal, bonita e bem cuidada... pelo menos eu acho. Durante muito tempo as viagens mais longas e regulares de minha vida eram com destino à Pinda e Guaratinguetá, para visitar minha avó, minhas tias, meu tio João e meus primos, já que houve um tempo, nos anos 80, que meu pai ( e todos nós) íamos até lá pelo menos uma vez por mês. Eu gostava muito, principalmente de ir na praça central, que tem uma espécie de gruta e é cercada por canais, com peixe (carpas) e tudo. Pô, nos anos 80, enquanto a maioria dos espaços públicos da capital estava quase sempre degradado, eu achava do outro mundo uma praça tão diferente e bem cuidada! Em Pinda tem também um mercado central, ao redor do qual, aos domingos, há (ou havia, não sei mais) uma feira com quinquilharias de todo o tipo, coisas que as pessoas geralmente jogariam fora, mas que lá o pessoal dava um jeito de comercializar, além de outras coisas que normalmente a gente encontraria em qualquer feira, coisas como legumes, verduras, frutas etc. Uma coisa que recordo lá de minhas idas, foi de uma vez que minha mãe levou eu e minha irmã, de trem, para conhecermos Campos do Jordão, que é um município vizinho. Bem, todos sabem como são bem cuidadas as instalações ferroviárias de nosso país... Chegamos a conhecer Campos do Jordão, mas não sem antes amargar umas quatro horas num lugar chamado Piracuama, já que a merda do trem teve um curto-circuito subindo as “montanhas” e tivemos de voltar e esperar numa estação perdida no meio do mato, onde não tinha nada pra comer, só água de torneira. Valeu a pena pela aventura e pela paisagem, já que eu não gostei muito do estilo de Campos do Jordão; sei lá, achei meio forçado uma cidade tão “alpina” ali no interior de São Paulo. A maioria das pessoas que conheço acha superchique ir lá passar frio, comer foundue, tomar vinho, etc, mas eu não curti muito não. Mas voltando a Pinda, eu passei vários carnavais ali, indo nos salões e o caramba. Vá lá, não era a maior zoeira do mundo, mas dava pra se divertir, ver o movimento pelo menos... e sem o risco de voltar morto pra casa, porque ali era certeza que não ia rolar encrenca nestas puladas carnavalescas, por motivos que não vêm ao caso falar agora.




Aparecida - SP: Entre Pinda e Guaratinguetá fica cidade santuário de Aparecida. Uns dizem Aparecida do Norte, mas esse nome não tem nada a ver. Aliás, tem um pouco, porque o “do Norte” pegou porque a galera ia até uma estação de trem na Capital, acho que era a estação de onde saíam os trens rumo ao norte do país, e ali pegavam o danado até Aparecida, Sei lá como, associaram o nome da cidade com o nome da estação... é um história mais ou menos assim. O fato é que era sagrado: dada a freqüência com que íamos ali pro Vale do Paraíba, era meu pai trocar de carro e dava uma parada na Aparecida pra abençoar o auto. É uma cidade que vive em função da fé, ou como gostam de dizer agora, do turismo religioso. Andei bastante por lá quando criança, mas, incrivelmente, nunca me interessei por nada do que havia na miríade de quinquilharias que se vendia naquelas lojinhas espalhadas ao redor da basílica. Não que eu tivesse alguma coisas contra, simplesmente não achava graça; hoje eu acho meio forçado esse comércio em torno da fé ao mesmo tempo em que acho complicado tecer algum julgamento. Primeiro porque não vivemos num mundo ideal, vivemos num mundo desgraçado onde tudo é movido a dinheiro. E para que se tenha uma estrutura capaz de dar um mínimo de conforto aos romeiros é preciso que ele saia de algum lugar (eu sei os apuros que passei andando por ali sem ter onde beber água, banheiro decente, lugar legal pra comer...). Depois, onde não há comércio nesse mundo? Que rola exploração ali, isso rola, mas não sei das coisas com a profundidade necessária pra dar uma opinião “embasada”, sei que o pessoal fala pra caramba sobre isso, mas nesse mundo quem tem boca fala o que quer, não é mesmo. Só sei que uma vez, acho que a única vez que me meti em romaria, foi a maior “roubada”. Minha avó chegou e disse: — Claudio, vai ter uma excursão do pessoal ali da Cristo Operário (rua da Vila Guilherme) lá pra Aparecida. Você vai comigo? Eu não queria ir sozinha... — Ah, vó... tô fora. Tenho de estudar (o velho golpe do aluno aplicado...) — Não, Claudio, vai ser bem legal... Olha, vai até umas “mocinhas”... Acabei indo. E até que, por acompanhar o ritmo da minha avó, acabei prestando mais atenção a certos aspectos da cidade, os quais eu nunca tinha dado muita atenção antes, principalmente com relação à igreja velha, que é muito interessante. Quanto a ”roubada” , isto ficou por conta das tais mocinhas, que deviam ser beldades mesmo... nos anos 40!




Lorena-SP: Minha irmã Ana Lúcia, filha do meu pai, mora nesta cidade, que deve ter mais bicicleta do que gente. Lembro de terem me contado que Lorena é uma das cidades mais violentas do Vale do Paraíba, numa triste constatação de como as coisas mudaram no interior paulista nos últimos anos. Meu único interesse nessa cidade é minha irmã e sua família, gente muito boa e que mantém ainda alguns velhos costumes do interior, coisa cada vez mais rara hoje em dia. Teve uma vez em que eu os estava visitando e a molecada começou pegar içá para comer — pra quem não sabe, içá é a fêmea da saúva, a rainha que sai do ninho pra formar uma nova colônia e tem o abdômen cheio de ovos . Putz, eu não consigo comer içá, e tem gente que paga uma grana no litrão cheio desses bichos... (c’est la vie, cada um no seu quadrado!).







Volta Redonda - RJ: O irmão mais velho do meu pai mora nessa cidade e é o pai do meu primo Diogo. A grande impressão que guardo dessa cidade diz respeito ao gigantismo das instalações da CSN. Caramba, você andava pra burro numa avenida que margeia a empresa e não chegava ao final dela! É a maior instalação industrial que eu já vi. Não sei ao certo, mas acredito que a economia dessa cidade ainda deva girar em torno da siderúrgica, embora da última vez em que estive lá (2004) deu pra ver que o comércio é pujante e bem diversificado. Penso que é um lugar legal, embora já deva enfrentar os problemas inerentes aos grandes centros brasileiros; se um dia conseguir combinar com meu primo, gostaria de visitar esse lugar novamente. Embora também fique no Vale do Paraíba, assim com Pinda, Guará e Aparecida,só que do lado fluminense, o sotaque muda pra caramba, sendo bem característico e, claro, bem fluminense. Foi o primeiro lugar que visitei onde esta particularidade me chamou a atenção e onde, também pela primeira vez, as pessoas estranharam o meu sotaque. Parece bobagem, mas tem gente que fica velha e não percebe essas coisas da vida, achando que o seu lugar, a sua terra natal é o que há de melhor e mais exclusivo na face da Terra. De certa forma, ali me liguei que a cidade de São Paulo, embora imensa, não era o único lugar do mundo onde havia coisas legais e diferentes




Araçariguama - SP: Esta cidade fica no Km 50 da Castelo Branco, sentido capital-interior e quando morei lá, nos anos 80, era distrito de São Roque, junto com Cangüera e São João Novo. Foi assim: Meu pai, depois que saiu de Guaratinguetá por causa de alguns reveses, foi trabalhar numa metalúrgica no bairro do Pari, na capital. Veio um decreto municipal e proibiu empresas daquele tipo no perímetro urbano. Por essa época a prefeitura de São Roque criou um distrito industrial em Araçariguama e atraía indústrias pra lá com incentivo fiscal. A empresa onde meu pai trabalhava se mudou para lá e ele teve de ir junto, claro, querendo levar a família; entretanto, minha irmã Carla era bebê à época e meus avós acharam que não seria uma boa idéia mudar pra um lugar carente de recursos com um bebê e um pançudo (à época Araçá ainda era meio atrasadinha). Assim, fiquei morando com meus avós na Vila Guilherme, até os 7 anos; todo final de semana, religiosamente, minha mãe vinha de Araçá e só voltava na segunda de manhã ou no domingo à noite, quando meu pai vinha junto. Quando meu avô Zelão morreu, eu e minha avó fomos morar com meus pais; no começo eu gostava, principalmente por conta da liberdade. Imagina, vivia quase trancado em São Paulo e, de repente, ter a liberdade de correr solto nas ruas, a pé ou de bicicleta, quase sem limite de horário... Além do mais eu consegui fazer amizade fácil com a molecadinha da região, e muitos ficaram amigos pro resto da vida, embora há muito não os veja. Bem, até que eu era criança eu gostava de morar ali, mas quando me tornei adolescente, gostava ainda, mas não tanto quanto antes. Aliás, não gostei muito da minha adolescência, acho que foi muito sem graça, principalmente ali nos seus anos iniciais (lá pro final, quando consegui comprar um carrinho e quando já trabalhava, aí melhorou um bocado...). Morei ali até os 15 anos, pois já que meu pai estava aposentado, meus pais resolveram voltar a morar na Vila Guilherme. Sem dúvida, a coisa mais legal e marcante que me aconteceu lá foi ter sido alfabetizado. Nunca me esqueço do dia em que me liguei do esquema de juntar as letras pra formar as palavras. Aparentemente é uma bobeira né, mas imagina a vida sem saber ler... É só imaginar e a gente dá o devido valor. Passei muitos perrengues existenciais ali também, e pudera, adolescência não é fácil... Uma coisa que, de forma recorrente, tem vindo à minha mente é o pensamento de que eu deveria ter procurado manter mais contato com os antigos amigos que tinha por lá. De fato, seria muito legal se eu tivesse contato com o pessoal, mas a vida não é algo redondinho onde sempre acontece o que seria o mais certo ou mais legal, acontecesse o que tem de acontecer, o que a gente “planta” e acabou; além disso, quando voltei a morar na Capital, também comecei a trabalhar numa grande vidraria perto de casa, tive uns problemas na nova escola (que era um porcaria...) enfim, comecei a ter novos problemas e fui me distanciando emocionalmente de Araçá. Aqui do Sul, quando se vai com o ônibus Princesa dos Campos, saindo de São Miguel do Oeste, passa-se por Araçariguama antes de se chegar a São Paulo. Dá pra ver que cresceu bastante e se desenvolveu também, não é mais aquela vilinha do começo dos anos 80 onde todo mundo se conhecia e coisa e tal. Acredito que o pessoal já enfrente alguns problemas característicos dos centos urbanos brasileiros, principalmente pela proximidade com cidades maiores como a Capital, Soracaba, Itu, etc. Enfim, eu gostei de morar lá, mas acho que foi bom ter voltado para São Paulo. Talvez quando conseguir comprar um carro novamente, dê uma passada por lá, só para conferir.


















Pirapora do Bom Jesus-SP: Esta cidade está num município vizinho à Araçariguama. O Rio Tietê corta a cidade, que ainda é próxima à capital, e trechos antes da água chegar ao perímetro urbano cria-se o triste, bizarro e fedorento espetáculo das espumas sobre as águas. Este problema se origina por causa da passagem das águas por uma barragem existente na região, e a formação das espumas resulta da presença, na água, de produtos químicos diversos, principalmente detergentes. A exemplo de Aparecida, a cidade é um centro de peregrinação, no caso, por causa da imagem do Bom Jesus de Pirapora. Por ser uma imagem meio diferente das que comumente vamos nas igrejas, quando criança eu quase acreditava que ela fosse viva, e que os cabelos e unhas crescessem de verdade... Interessante notar que, a exemplo da imagem de Nossa Senhora de Aparecida, o Bom Jesus de Pirapora, conta-se, também foi retirado das águas, no caso, das águas do Tietê (claro, eram limpas na época, por volta de 1725). O pessoal de Araçariguama fazia romarias a pé, e eu ia não pela fé, mas pela zoeira mesmo, confesso. Teve uma vez que fui “passear” às margens do Tietê, no interior desse município; ali dava pra ver bem o estrago que se pode fazer na natureza, pois tudo o que era sobra, refugo da civilização, podia ser encontrado às margens do rio ou dependurado nas árvores, já que o nível das águas, ali, se alterava bastante conforme, dizia-se, se abria ou se fechava as barragens rio acima. Como escrevi anteriormente, um espetáculo triste, bizarro e fedorento.




















São Paulo – SP: O que dizer em poucas palavras? Com certeza, que ninguém é indiferente à ela... Conheço gente que a ama, a idolatra, que fez a vida ali e de lá não sai nem debaixo de pau; conheço também gente que a odeia, que perdeu todas as esperanças ali e que jura não querer nem ouvir falar. Lá você encontra quase de tudo; tendo dinheiro você tem acesso ao que quiser, pro bem e pro mal. Mas quem já teve de enfrentar aquele trânsito diariamente, quem já encarou alagamento e outras mazelas paulistanas sabe que sossego e qualidade de vida são coisas raras naquelas quebradas. A maior parte de minha vida eu passei ali e, salvo o nascimento de minha filha, que é catarinense, os acontecimentos decisivos pra mim ocorreram ali. Mesmo morando em Santa Catarina, todo final de no tenho ido a São Paulo e, agora como "turista" tenho enxergado a cidade de uma forma diferente, conseguindo mesmo visualizar algumas oportunidades que nunca me haviam passado pela cabeça. Mas é isso, em São Paulo agora sou turista. Meus pais, minha avó, minha irmã Carla e sua família, meu irmão Rafael e um bando de amigos meus e da Regina ainda vivem lá. Pode ser uma cidade poluída, opressora, indiferente, por vezes estupidamente violenta... mas eu a considero minha terra natal.






Rio de Janeiro – RJ: Estive nessa cidade em duas ocasiões, em 1988 e em 1998. No geral, achei o povo mais simpático e amigável que o povo de São Paulo. Dificilmente voltarei a visitá-la, mas gostaria. Não sei no que se baseiam pra dizer que o povo lá é menos trabalhador do que o povo de São Paulo ou de qualquer outro lugar. Deve ser despeito já que, mesmo com todos os problemas, a cidade tem pontos turísticos realmente maravilhosos.





Pouso Alto – MG: O município onde nasceram minha avó Rosa, meu pai e seus irmãos e provavelmente o meu avô Sebastião. Não sei muita coisa sobre esse lugar, acho que nem meu pai se lembra muito daí, porque a vida dele começou a ficar legal mesmo em Guaratinguetá. Uma vez passando por Pouso Alto, rumo a Virgínia, onde moram alguns parentes, vi a casa onde meu pai nasceu — na época de seu nascimento ali era a Fazenda Lagoinha. A casa era grande, estilo sede de fazenda mesmo, só que a vi de longe e não deu pra ver a quantas anda o seu estado geral. A sede do município é bem pequena, lembro que tinha um boteco que também servia de rodoviária e loja de lembrancinhas; claro que hoje, por morar em uma pequena cidade também, de repente visse o lugar sob outro prisma já que quando estive lá da última vez ainda morava em SP Capital. Quando tentei tirar a cidadania italiana e tive de pesquisar os documentos de alguns bisavós, a maioria deles saiu do cartório desta cidade; perguntando pros parentes daqui e dali, chegamos a conclusão que muitas pessoas nessa região, mesmo sem saber, são parentes nossas parentes distantes. Por causa disso, acho que é um lugar que vale a pena conhecer melhor algum dia, até porque fica perto de São Lourenço, famosa pelas águas e pela dor de barriga em quem não se cuida e quer beber todos os tipos lá existentes.




Virgínia-MG: Esta cidade é vizinha a Pouso Alto e, ao pesquisar a foto para “ilustrar” este texto descobri que ela foi desmembrada desta última. Tenho um monte de parentes aí, primos de meu pai... e meus também, por tabela...rs. Os irmãos de minha avó Rosa moravam aí, pelo que sei, mas não conheci nenhum deles, somente o velho “Tio João”, que morava em São Lourenço e que, por não ter filhos nem ser casado, sempre visitava a casa dos sobrinhos. Esse tio era legal, “trutão” meu. Ele trabalhou uns quantos anos como motorista de um médico cheio da grana, e pelo que entendo, quando o médico faleceu e meu tio se aposentou, deixaram ele morando por ali, por consideração (coisa rara...). Ele manjava de direção e até que a idade permitiu, ele não se via apertado em pegar qualquer tipo de carro, nem que pra arranhar umas marchas. Uma vez saímos de Guaratinguetá e fomos visitar meu Tio João, o novo. Bem no meio da Serra, numa curva, em cima do lance, a estrada tinha desmoronada e só metade do asfalto tava alí, o resto era ribanceira. Estávamos numa caravan. Putz, o véio teve braço e reflexo pra segurar o carro, que dançou mais que a mulata globeleza... coisa de louco!!! A última vez que estive em Virgínia foi para visitá-lo, pois foi necessário interná-lo numa clínica de repouso. Mesmo sendo legais, o pessoal lá do seu antigo patrão não tinha como cuidar dele, e minhas primas de Virgínia se encarregaram disso por um tempo. Ele teve aqueles problemas que muitos idosos têm no final da “carreira” e que comprometem a mobilidade e a sanidade mental... Enfim, todos ficaram de acordo que o melhor era ele ser tratado num lugar assim. Quando fui visitá-lo, ele estava bem, claro, dentro do esperado para quem se encontra nesta situação, e mesmo com as faculdades mentais alteradas ele tava tirando onda — ele me falou que ali era o seu hotel, que ele tinha comprado e que eu ficasse à vontade, porque ali era ele que mandava ( como escrevi acima, ele era “trutão” meu). Minhas primas e primos que moram aí são muito legais mesmo, sempre recebem a gente na maior hospitalidade e sem frescuras. Quando eu tentei tirar a cidadania italiana elas tiraram todos as certidões necessárias pra mim, certidão de nascimento dos avós, de casamento do bisavô, etc. Acabou não dando certo porque minha avó teve meu pai antes de 1948 e, por meandros legais, a cidadania dela não “passa” pro meu pai e não chega até mim; se ela fosse homem, ou se meu pai houvesse nascido depois de 48 tinha dado certo. Mas não foi de todo perdido o esforço, porque para muitos de nossos primos o esquema vale, já que são netos e bisnetos de irmãos “meninos” de minha avó Rosa (eu tenho como tirar ainda se fuçar nas origens dos meus outros dois bisavós italianos, mas, sinceramente, perdi o barato). Só pra constar, o meu bisavô italiano que viveu nestas quebradas, o José Varella (ou Giuseppe, né...) não passou pela hospedaria do Brás, em São Paulo. Arrisco a dizer que, provavelmente, tenha desembarcado no Rio de Janeiro ou no Espírito Santo. Quando eu morava em Paraíso-SC, um dia um rapaz de São Paulo, estudante de jornalismo da Cásper Líbero, ligou lá na vizinha pedindo pra falar comigo. Ele disse que era meu parente e que estava fazendo um trabalho na faculdade sobre a origem de sua família e que disseram que eu tinha fuçado nestas coisas. Eu falei o que sabia, o que andei perguntando pra minha vó etc, só que muita coisa meio que vira lenda, não tem muito fundamento, de modo que pra falar certo alguma coisa, tem de ter tempo de pesquisar um pouquinho. Sei que ele nasceu no Lazio, nalguma aldeia perto de Roma e como foi parar em Minas ninguém sabe ao certo. Meu pai disse que ele desertou do exército italiano quando quiseram enfiar ele e outros soldados pobres numa roubada, essas coisas tipo “vai lá tomar tiro de graça que os ricos não têm coragem”, mas não é muito provável, principalmente pela sua idade ao desembarcar no Brasil. O sobrenome Varella até tem bastante na Itália, mas é de origem galega e na Espanha e Portugal costumam grafar com um “l” só (Varela) — mas não sei se a galera respeita isso ao pé da letra. Curiosamente, se ele nascesse dois anos antes, não teria nascido na Itália unificada. Bem, o fato é que Virgínia merece também uma visitada numas férias aí, até pra eu poder falar mais do lugar propriamente dito e manter a tradição de fuçar nas origens remotas de minha família, até porque estou curioso para conhecer algo do ramo “Maciel” dos meus antepassados.

Um comentário:

  1. Esse "esquema de juntar letras" pode ser a grande diferença na vida de uma pessoa, ou melhor, na constituição dessa pessoa. Se todos tivessem essa compreensão, as paisagens no mundo de cada um seriam, certamente, mais coloridas, assim como são as suas, que, além de cores, possuem sabores...
    Gosto de como escreve!

    Professora Idilene M. L. Coletto - EEB Santa Helena.

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